domingo, 4 de janeiro de 2015
sexta-feira, 2 de janeiro de 2015
Carta de adeus, adeus boa viagem. E Nelson Cavaquinho cantando "Quando eu me chamar saudade"
2015.
Te escrevo como quem sai de casa e caminha por ruas desconhecidas.
No
último encontro nos vimos pouco e pouco falamos. Estavas mais nervoso e eu mais
impaciente. Irritada.
Fiquei
muitas vezes nesses dias de outubro te observando de longe. Arredia. Meu
sentimento era de amor e raiva. Bem antagônicos e devo te confessar, intensos.
Na
realidade tu despertas sentimentos fortes nas pessoas, foi sempre uma das tuas
características. Ame-o ou deixe-o. Nunca te deixaria. Não sei porque mas desde
que te conheci, em 1990, tive um apego imediato por ti. Pelo teu jeito de
jogar, cantar. Dessa intensidade de ser. Pleno. Esse modo bruto, diriam alguns!
Eu daria outro nome: verdadeiro até o extremo. Outra coisa era quando olhavas,
falavas muito pelos olhos: toca direito. Impressionante.
Tive
algumas brigas fortes por causa desse teu jeito, dessa tua intransigência. Mas
incrível, para mim, eras indispensável na capoeiragem da cidade. Pelo teu modo
de ser e compreender a capoeira. Tivestes boa escola e penso agora, que mesmo
as vezes não percebendo, a lição que passavas era fundamentada no teu
aprendizado inicial. Afinal carregamos em nós o legado que recebemos.
E
tudo isso faz com que sejas um nome permanente no meu coração. Mas nesse mesmo
coração existia a vontade de jogar contigo e no jogo exaurir a gana que sentia.
Nesse
nosso último contato ficava matutando, procurando entender o porquê de algumas
atitudes. Porquê da teimosia? E pensava: pô que homem difícil!
E
brigávamos muito. Confesso que gostava de brigar. Ver se conseguia irritá-lo,
de questioná-lo. E quantas vezes quando eu estava bem séria, vinhas com
ironias, piadas e quando me dava conta já estava rindo.
Te
levamos na rodoviária, eu e o Polegar. Estavas agitado, né? Guardo duas imagens:
como comestes rápido o lanche segurando tua bolsa e a caixa com passarinho. E quando nos despedimos e subistes no ônibus:
os olhos sérios e de um verde escuro. Foi a última imagem. A última conversa.
Não
te liguei no Natal. É uma das minhas tristezas. Não te liguei. Sempre ligava.
Mas nesse pensei: vou ligar pro mestre no Ano Novo. No Natal não, falo com ele
na passagem do ano.
Não
deu. Passastes pra outra estrada. A passagem foi mais ampla. Solitária.
Fiquei
com pensamentos e falas suspensas.
Em
Guarujá, na derradeira despedida, no calor do dia, pensei no tempo, no que não
disse, no que não perguntei, no que não consegui fazê-lo entender, no que
gostaria de ter voltado a unir, no que eu tinha que ouvir e aprender e mais
ainda, aceitar.
A
carne é fraca, a de todos nós, mas o espírito, mestre, esse evolui, sempre.
Na
caminhada estamos acompanhados mas solitários no plantio e na colheita. Que
tenhas fé e confiança pois na diversidade da tua plantação a colheita foi
generosa. Somos parte dela. Agradeço por ter caminhado contigo.
Sabe,
Braulino, quero mesmo é que descanses. Que te acalmes, que te sintas amado. Que
não tenhas mais pressa e que sejas paciente E que caminhes mais devagar, (pois
é assim que se vai mais longe), e eu posso um dia te alcançar.
E
mesmo atrasado, um Feliz Natal. Bom ano.
Boa
nova vida. Força. Axé. Te gosto. Danuza.
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