Registrar é reter na memória.
A memória histórica, aquela que nos constitui e nos torna reconhecíveis
enquanto seres sociais que compartilham um determinado tempo e espaço, essa atualmente
pode vir a morrer.
Vivemos num tempo sem passado, o que nos liga a ele, o que nos vincula
as gerações que construíram esse presente, deixou de ter importância.
Trazer a memória para o agora é mais que fazer lembrar, estamos vivendo
com jovens e pessoas desmemoriadas, não é um simples caso de esquecimento, não
basta fazer como os historiadores: lembrar o que os outros esquecem.
Estão (e estamos) impregnados pelo imediatismo, vivemos num mundo em que
o passado já não é referência. E por isso se “come” qualquer coisa que se
coloca no prato. Principalmente se for fácil de engolir. Sem esforço, bem digestível,
sem um gosto muito forte, sem sustos e conflitos. Comida pronta, instantânea,
um prato que não fique mudando de sabor, um único “estilo”, sem “ideias” que
façam pensar. Quanto menos mudar as “regras” melhor.
Mercedes Sosa, em “La Maza”, canta sobre crer nas suas escolhas, no seu
caminho, no desejo, no que esconde a vida. E pergunta: que adianta ter a massa
e não ter a pedreira? Fazer a massa e não usá-la, que coisa sem sentido.
Uns possuem o conhecimento e não o colocam na rua, enquanto outros
acreditam apenas que a história mais importante se resume na que ele está
fazendo.
A roda da capoeira é patrimônio mundial. Da humanidade. Esse é o fato.
Tornar isso ação é o desafio. Dar vida.
No mercado, na roda do dia seis de dezembro, os capoeiristas de
distintas vertentes mostraram que o legado histórico, que a liberdade guardada
na memória na hora da luta e da resistência cultural rompe as diferenças e se
faz solidária.
A roda do mercado, na volta que deu e na volta que dá, é movimento por
um mercado popular, cultural e mané.
Respeitar e preservar as nossas heranças materiais e imateriais é reconhecermos
que estamos apenas de passagem.
Axé aos capoeiras, mulheres e homens, que fizeram a última roda do ano
de 2014.
Florianópolis, Santa Catarina. Brasil.